Monique Bonomini
2 min readDec 29, 2022

--

Photo by Peppe Occhipinti on Unsplash

A mãe em seu labirinto

Ao me tornar mãe uma força me empurrou para um labirinto. Eu ainda não descobri se o percurso me reserva um prêmio ou uma saída, só sei que várias vezes sinto vontade de apenas sentar e esperar, por achar que não faz diferença o lado a seguir, estarei sempre perdida.

Mas quando avanço, encontro pistas me indicando como cheguei até este ponto, como migalhas deixadas por onde passei, o que é quase um conforto. Eu não gostei de ser mãe, mas sem isso eu não teria a oportunidade de ser o que sou hoje, alguém de que gosto muito mais do que quando eu não era mãe, e se compartilho sentimento tão íntimo é porque acho importante fomentar o debate do papel da sociedade na criação das crianças; o filho é da mãe, mas o cidadão é da sociedade inteira e, no entanto, a comunidade não se envolve, com responsabilidade, na formação deste cidadão, função que fica quase exclusivamente a cargo das mulheres, sejam elas mães ou cuidadoras.

Eu tento ser a melhor mãe que posso e dou muito valor à minha atuação, tem muito amor pelos meus filhos na minha prática, mas também tem um senso de dever, porque eu não crio bibelôs, crio gente pro mundo.

Nos últimos meses meu labirinto se reconfigurou. Entre o “nossa, mas não parece”, e o que de fato é, um léxico imenso se descortinou: neurodivergente, neuroatipia, estereotipia, ecolalia, análise comportamental aplicada, comportamento aversivo, reforço positivo, reforço negativo, hiperfoco, escala CARS, generalização, apraxia da fala, multigestos, transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, altas habilidades, seletividade alimentar, transtorno de neurodesenvolvimento, nível de suporte, ansiedade, depressão, repressão, comportamento autolesivo, política nacional de proteção ao direito da pessoa com transtorno do espectro autista, atendimento educacional especializado e inclusão, foram alguns dos guias que apoiaram meu empenho diário para seguir adiante, um esforço para não sentar, não parar, ainda que eu não veja o horizonte, mesmo que eu não entenda se o que me aguarda é prêmio ou saída.

Talvez no ano que está por vir eu descubra ou talvez demore um pouco mais, por enquanto meu único desejo de ano novo é o de seguir em movimento.

Se você gostou deste texto pode ajudar a divulgá-lo compartilhando com seus amigos e deixando palminhas (até 50) que ajudam a impulsioná-lo.

--

--

Monique Bonomini

Sou revisora, faço leitura crítica e também escrevo. Ler é um prazer.