O que significa o presente

Monique Bonomini
3 min readDec 23, 2023

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Imagem de Welcome to All ! ツ por Pixabay

Alguns animais, como os pinguins, fazem a corte presenteando a fêmea com seixos para o futuro ninho do casal; quem tem gatos costuma receber presentes inusitados, é que os felinos domesticados, movidos pelo instinto, desejam ensinar seus tutores a caçar, e os trazem animais mortos como se os estivessem ensinando o que procurar para sobreviver.

Há pessoas que são ótimas presenteando, têm atenção nas preferências do outro e por suas observações conseguem oferecer presentes inesquecíveis. Por outro lado, há quem nunca sabe o que o outro gostaria de ganhar, e se agarra em dicas pela internet ou ao julgamento de vendedores que nunca viu e conseguem, algumas vezes, oferecerem presentes também inesquecíveis, só que de tão absurdos.

Foi um cavalo de madeira de presente que encerrou uma guerra que já durava mais de dez anos, numa das mais célebres histórias que a humanidade já conheceu. E, nesta época do ano, as trocas de presente estão amparadas na oferta de presentes de três reis a um menino recém-nascido, embora na cidadezinha de Chester, na Inglaterra, a troca de presentes esteja, até hoje, relacionada à festa pagã em celebração ao deus da agricultura, em que a troca de presentes simboliza a fartura provida por ele.

Desde que o mundo é mundo, presenteamos. Presentear é uma maneira de criar uma conexão social, mas o que significa o presente? Ele precisa ser um objeto? Precisa ter valor econômico? Só vale se estiver embrulhado? E os presentes de que não gostamos, são menos presentes do que os outros? Faz mais sentido um presente que se relacione com quem oferece ou com quem recebe?

Atualmente, ter, é algo que desperta muita ansiedade, mas o que somos capazes de ter realmente? O que, despidos de burocracias, de etiquetas sociais, de maneirismos, de modismos e de ostentação, conseguimos conceber como genuinamente nosso, ao ponto de que possamos transferir a um outro? O que eu ofereço, quando dou um presente?

Muitas pessoas dizem que nosso conhecimento, nossos pensamentos e valores são coisas que ninguém pode nos tirar, assim como nossos sentimentos, aquilo que levamos no coração, também não podem ser tirados de nós, e deste ponto de vista, é bastante imaterial aquilo que, então, verdadeiramente se possui.

Há algum tempo busco ressignificar o sentido desta época do ano, percorro os inúmeros símbolos que a representam em busca de pistas que me digam que todo esse ritual de passagem, toda essa excitação, esse verde e vermelho, essas luzes piscando, podem significar mais do que apenas um amontoado de plástico e desperdício de energia elétrica sem sentido num lugar onde faz tanto calor.

Este ano me volto aos presentes, não aos que estão em pés de árvores ou inalcançáveis e impagáveis, para muitos, nas prateleiras e vitrines, mas àqueles que ofereci ao longo de todo ano. Aqueles que, por serem as únicas coisas de que eu me sentia realmente possuidora, eu pude compartilhar com quem estava disposto a receber e que levaram consigo mais do que o som da minha voz ou meu amontoado de letras numa folha, levaram um afeto genuíno, a gratidão por receber o que o outro lado tinha a me oferecer de volta, uma oportunidade.

Neste último texto de 2023 deixo um convite para que todos pensem no significado do presente, seja aquele que se camufla em embrulho e laço, seja este que é feito de hoje, este presente que amanhece todo dia como oportunidade e que é oferecido e se recebe permeado pelos afetos genuínos que nutrimos e compartilhamos entre nós.

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Monique Bonomini

Sou revisora, faço leitura crítica e também escrevo. Ler é um prazer.